Lendo Primeiras Estórias de Guimarães Rosa compreendi a sensibilidade deste escritor. Em "Sorôco, sua mãe, sua filha", o escritor relata a dor da separação de um homem de aparência bruta, mas que, sozinho, cuida de sua filha e sua mãe que sofrem de algum tipo de loucura mental. Por não poder mais atender as necessidades delas resolve mandá-las ao hospício, de trem. Ao despedir-se, sua filha começa a cantar uma música sem nenhum sentido, sua avó a acompanha, e todo o vagão do trem olha para Sorôco com olhar de piedade, e todo o medo que sentiam daquele homem transformou-se em compaixão, e todo o vagão acompanhou a canção para tornar a despedida menos dolorida.
Mostrando assim qualquer pessoa tem compaixão ao próximo quando encontram-se na mesma situação, afinal todos naquele vagão estavam deixando alguém para trás por algum motivo. Talvez a dor de Sorôco fosse menor que de outra pessoa, que mesmo assim cantava por piedade, e para sanar as mágoas da partida, mesmo que a música não faça nenhum sentido.
"A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde ia aquela cantiga."
João Guimarães Rosa - Primeiras Estórias
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